Os cientistas resolvem ou criam novos problemas sociais?
O desenvolvimento da biologia pesqueira no Brasil (1967-1978)
DOI:
https://doi.org/10.52712/issn.1850-0013-412Palavras-chave:
problemas científicos, problemas públicos, Programa de Desenvolvimento da Pesca, Brasil, FAOResumo
A crença de que a ciência pode fornecer soluções objetivas para problemas públicos remonta ao século XVII. Diante dessa crença, alguns estudos investigaram como melhorar os processos de produção de conhecimento para orientá-los na solução de problemas públicos. Neste artigo queremos inverter a questão: como o conhecimento científico participa da construção de novos problemas públicos? Defenderemos que os cientistas participam, juntamente com outros atores sociais, na definição do que é um problema público e quais são as soluções objetivas. Tomaremos como estudo de caso o Programa de Desenvolvimento Pesqueiro (PDP) (1967-1978), assinado pela Food and Agriculture Organization (FAO) e o Brasil. O caso é relevante porque pretendia aumentar a produção pesqueira para acabar com a fome no mundo. No entanto, contribuiu para o desenvolvimento de um modelo de pesca baseado na exportação de produtos “finos” para os mercados centrais. Argumentaremos que a utilidade do conhecimento se explica pela estreita relação entre os problemas da pesca industrial e os problemas dos biólogos pesqueiros do PDP. Para tanto, retomamos as contribuições dos estudos sociais da ciência, da sociologia dos problemas sociais e dos estudos das ciências de campo. Como material empírico, trabalhamos com os relatos dos biólogos pesqueiros do PDP.
Downloads
Referências
Armstrong, M. J., Payne, A. I. & Cotter, A. J. R. (2008). Contributions of the fishing industry to research through partnerships. En A. Payne, J. Cotter & T. Potter (Eds.), Advances in Fisheries Science. 50 years on from Beverton and Holt (63-85). Oxford: Blackwell Publishing.
Bartley, T. (2007). How foundations shape social movements: The construction of an organizational field and the rise of forest certification. Social Problems, 54(3), 229-255. DOI: 10.1525/sp.2007.54.3.229.
Bloor, D. (1976). Conocimiento e imaginario social. Barcelona: Gedisa.
Browne, J. (1992). A science of empire: British biogeography before Darwin. Revue d'histoire des sciences, 453-475.
Campling, L. & Havice, E. (2018). The global environmental politics and political economy of seafood systems. Global Environmental Politics, 18(2), 72-92. DOI: 10.1162/glep_a_00453.
Cyrino, C. O. S. C. (2021). Modernização e segregação: a pesca artesanal no projeto nacional-desenvolvimentista. Simbiótica. Revista Eletrônica, 8(1), 110-132. DOI: 10.47456/simbitica.v8i1.35435.
de Faria, F. O. S. & Slack-Smith, R. J. (1976). Relatorio da reuniao do grupo de trabalho para avaliacao preliminar da pesca de piramatuba. Série Documentos Técnicos PDP nº 16, 1-55. Brasilia: FAO-SUDEPE. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
de Moura, S. J. C., Barcellos, B. N., Tremel, E., da Silva, O. & Grafulha, J. L. L. (1968). Walter Herwig na costa atlántica da América do Sul. Pesca y Pesquisa, 1(1), 44. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Devold, F. (1958). Report to the government of Brazil on fishery biology. Based on the work of Finn Devold, FAO/ETAP fisheries biologist Rep. FAO/ETAP nº 798, 1-33.
Dias-Neto, J. (2003). Gestão do uso dos recursos pesqueiros marinhos no Brasil. Brasilia: Edições IBAMA.
Diegues, A. C. S. (1983). Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. San Pablo: Ática.
FAO/UN (1966). Report to the Government of Brazil on development of the marine fisheries biology research program. Based on the work of F.M. Frantzen, FAO/TA associate marine fishery biologist. FAO/UNDP(TA) nº TA 2173, 1-7.
Fernandes, P. G., Gerlotto, F., Holliday, D. V., Nakken, O. & Simmonds, E. J. (2002). Acoustic applications in fisheries science: the ICES contribution. Marine Science Symposia, 215, 483-492.
Finley, C. (2011). All the Fish in the Sea. Chicago: University of Chicago Press.
García, S. M. (1992). Ocean Fisheries Management. The FAO Programme. Conference on Ocean Management in Global Change, Genoa, 22-26 de junio.
Giulietti, N. & Assumpção, R. d. (1995). Indústria pesqueira no Brasil. Agricultura em São Paulo, 42(2), 95-127.
Goularti Filho, A. (2016). Da SUDEPE à criação da secretaria especial de aquicultura e pesca: as políticas públicas voltadas às atividades pesqueiras no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas, (49).
Gusfield, J. (1984). The culture of public problems: Drinking-driving and the symbolic order. Chicago: University of Chicago Press.
Haimovici, M. (2007). A prospecção pesqueira e abundância de estoques marinhos no Brasil nas décadas de 1960 a 1990. Levantamento de dados e avaliação crítica. Brasília: Ministério do Meio Ambiente-Programa REVIZEE.
Hubbard, J. (2014). In the wake of politics: The political and economic construction of fisheries biology, 1860–1970. Isis, 105(2), 364-378. DOI: 10.1086/676572.
Iñigo Carrera, J. (2008). El capital: razón histórica, sujeto revolucionario y conciencia. Imago Mundi.
Jachertz, R. & Nützenadel, A. (2011). Coping with hunger? Visions of a global food system, 1930–1960. Journal of Global History, 6(1), 99-119. DOI: 10.1017/S1740022811000064.
Jasanoff, S. & Kim, S.-H. (2009). Containing the atom: Sociotechnical imaginaries and nuclear power in the United States and South Korea. Minerva, 47(2), 119-146. DOI: 10.1007/s11024-009-9124-4.
Kitsuse, J. I. & Spector, M. (1973). Toward a sociology of social problems: Social conditions, value-judgments, and social problems. Social Problems, 20(4), 407-419.
Kohler, R. E. (2002). Place and practice in field biology. History of Science, 40(2), 189-210.
Knorr Cetina, K. (1996). ¿Comunidades científicas o arenas transepistémicas de investigación? Una crítica de los modelos cuasi-económicos de la ciencia. REDES, 3(7), 129-70.
Kreimer, P. & Zabala, J. P. (2008). Quelle connaissance et pour qui? Revue d'anthropologie des connaissances, 2(3), 413-439. DOI: 10.3917/rac.005.0413.
Larkin, P. A. (1977). An epitaph for the concept of maximum sustained yield. Transactions of the American fisheries society, 106(1), 1-11.
Lefèvre, W. (2005). Science as labor. Perspectives on Science, 13(2), 194-225. DOI: 10.1162/106361405774270539.
Lerena, C. A. (2009). Malvinas, biografía de la entrega: pesca, la moneda de cambio. Buenos Aires: Bouquet Editores.
Lindner, M. J. (1957). Survey of shrimp fisheries of Central and South America, 235, 1-58, US Fish and Wildlife Service.
Mansfield, B. (2004). Rules of privatization: contradictions in neoliberal regulation of North Pacific fisheries. Annals of the Association of American Geographers, 94(3), 565-584. DOI: 10.1111/j.1467-8306.2004.00414.x.
Martins, A. (2018). O mar de todos: relações entre conservação marinha e gestão pesqueira no Brasil [Tesis de doctorado]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.
Martins, C. A. A. (2006). Indústria da pesca no Brasil: o uso do território por empresas de enlatamento de pescado [Tesis de doctorado]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.
Martin, A. & Lynch, M. (2009). Counting things and people: The practices and politics of counting. Social Problems, 56(2), 243-266. DOI: 10.1525/sp.2009.56.2.243.
Mendonca Leão, M. & Maluf, R. S. (2012). Effective public policies and active citizenship: Brazil's experience of building a food and nutrition security system. Brasilia: ABRANDH.
Merton, R. K. (1938). Science, technology and society in seventeenth century England. Osiris, 4, 360-632.
Metcalfe, J. D., Righton, D. A., Hunter, E., Neville, S. & Mills, D. K. (2008). New technologies for the advancement of fisheries science. En A. Payne, J. Cotter & T. Potter (Eds.), Advances in Fisheries Science: 50 Years on From Beverton and Holt (255-280). Oxford: Blackwell Publishing.
Mills, E. L. (2012). Biological oceanography: An early history, 1870-1960. Toronto: University of Toronto Press.
Muñoz, J. L. (1970). El desarrollo pesquero y la integración regional. Estudios Internacionales, 4(14), 133-149. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Nort, E. (1973). Industrialización de camarón. Série Documentos Técnicos PDP n° 3, 1-12. Rio de Janeiro: FAO-SUDEPE. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Nort, E., Benedet, H. D. & Machado, R. A. (1977). Técnicas de tratamento e controle da deterioração a bordo e em terra da sardinha "Sardinella brasiliensis". Santa Catarina: SUDEPE y Universidad Federal de Santa Catarina. Recuperado de: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
PDP (1974). Relatorio da primeira reuniao do grupo de trabalho e treinamento (GTT) sobre evaliacao dos estoques. Série Documentos Técnicos PDP nº 7, 1-25. Rio de Janeiro: FAO-SUDEPE.
PDP (1975). Levantamiento hidroacústico dos recursos pesqueiros pelágicos na costa sudeste e sul do Brasil. Série Documentos Técnicos PDP nº 10, 1-10. Rio de Janeiro: FAO-SUDEPE. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
PDP (1976). Relatório do grupo permanente de estudos sobre camarao. Brasilia: SUDEPE. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
PDP (1977a). Esforço e captura da pesca de covo no litoral basileiro. Série Dados básicos da Pesca nº 2, 1-88). Brasilia: FAO-SUDEPE. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
PDP (1977b). Relatório preliminar da reuniao do grupo permanente de estudos sobre sardinha. Brasilia: SUDEPE. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
PDP (1978). Sumário dos relatórios das reunioes técnicas do grupo de trabalho sobre a pesca da lagosta no nordeste brasileiro. Série Documentos Técnicos PDP nº 28, 1-88. Rio de Janeiro: FAO-SUDEPE. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Podgorny, I. & Lopes, M. M. (2014). El desierto en una vitrina. Museos e historia natural en la Argentina (1810-1890). Rosario: Prohistoria.
Poli, C. R. (1973). Projeto Babitonga. Santa Catarina: Acarpesc, SUDEPE & DECP. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Raggi Abdallah, P. & Bacha, C. J. C. (1999). Evolução da atividade pesqueira no Brasil: 1960-1994. Revista Teoria e Evidência Econômica, 7(13).
Ravetz, J. R. (1996). Scientific knowledge and its social problems. Nueva York: Routledge.
Roedel, P. M. & Saila, S. B. (1979). Stock assessment for tropical small-scale fisheries. International Workshop, 19-21 de septiembre. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Sahrhage, D., & Lundbeck, J. (2012). A history of fishing. Berlín: Springer Science & Business Media.
Schaefer, M. (1954). Some aspects of the dynamics of populations important to the management of the commercial marine fisheries. Bull. Inter-Amer. Trop. Tuna Comm. 1 (2), 27-56.
Serviço Público Federal (1978). Primeira reunião das federações de pesca. Brasilia: SUDEPE, Pescart & CNP. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Shapin, S. & Schaffer, S. (2005), El Leviathan y la bomba de vacío. Hobbes, Boyle y la vida experimental. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes.
Staples, A. L. (2003). To Win the Peace: The Food and Agriculture Organization, Sir John Boyd Orr, and the World Food Board Proposals. Peace & Change, 28(4), 495-523. DOI: 10.1111/1468-0130.00273.
Sosiuk, E. (2020). ¿Cuál es el problema? El rol de los científicos en la construcción de problemas sociales ligados a la actividad pesquera en Argentina en el siglo XX [Tesis de doctorado]. Buenos Aires: FSOC-UBA.
SUDEPE (1971). Considerações gerais sobre a composição da carne de pescado e a sua importância na alimentação humana. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
SUDEPE (1979). Plano Anual de Trabalho. Recuperado de: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Sudesul, SUDEPE, CECP & BRDE (1972). Estudos da flota e indústria pesqueira de Santa Catarina. Santa Catarina: Comissão de coordenação do Acordo 02/72. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Thorpe, A., Ibarra, A. A. & Reid, C. (2000). The new economic model and marine fisheries development in Latin America. World Development, 28(9), 1689-1702.
Valentini, H., D'Incao, F., Rodrigues, L. F. & Dumont, L. F. (2012). Evolução da pescaria industrial de camarão-rosa (Farfantepenaeus brasiliensis e F. paulensis) na costa sudeste e sul do Brasil–1968-1989. Atlântica (Rio Grande), 34(2), 157-171. DOI: 10.5088/atlântica.v34i2.3177.
Vasconcelos, F. d. A. G. d. (2005). Combate à fome no Brasil: uma análise histórica de Vargas a Lula. Revista de Nutrição, 18(4), 439-457. DOI: 10.1590/S1415-52732005000400001.
Vessuri, H. (2007). "O inventamos o erramos". La ciencia como idea-fuerza en América Latina. Bernal: UNQ.
Walsh, V. M. (2004). Global Institutions and Social Knowledge: Generating Research at the Scripps Institution and the Inter-American Tropical Tuna Commission, 1900s-1990s. Massachusetts: MIT Press.
Wintersteen, K. (2011). Fishing for Food and Fodder: The Transnational Environmental History of Humboldt Current Fisheries in Peru and Chile since 1945 [Tesis de doctorado]. Durham: Duke University.
Yesaki, M. (1973). Sumario dos levantamentos de pesca exploratoria ao largo da costa sul do Brasil e estimativa da biomassa de peixe demersal e potencial pesqueiro. Série Documentos Técnicos PDP nº 1, 1-68. Rio de Janeiro: FAO-SUDEPE. Recuperado de: www.icmbio.gov.br/cepsul/acervo-digital.html.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 CC Attribution 4.0
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Todas os números de CTS e seus artigos individuais estão sob uma licença CC-BY.
Desde 2007, a CTS proporciona acesso livre, aberto e gratuito a todos seus conteúdos, incluídos o arquivo completo da edição quadrimestral e os diversos produtos apresentados na plataforma eletrônica. Esta decisão é baseada no entendimento de que fornecer acesso livre aos materiais publicados ajuda a ter uma maior e melhor troca de conhecimentos.
Por sua vez, em se tratando da edição quadrimestral, a revista permite aos repositórios institucionais e temáticos, bem como aos sites pessoais, o autoarquivo dos artigos na versão post-print ou versão editorial, logo após da publicação da versão definitiva de cada número e sob a condição de incorporar ao autoarquivo um link direcionado à fonte original.