A Anomalia da Política de C&T e sua Atipicidade Periférica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.52712/issn.1850-0013-445

Palavras-chave:

política de ciencia y tecnología, Brasil, capitalismo periférico, elaboración de políticas, neutralidad y determinismo de la tecnociencia, pensamiento latinoamericano en CTS

Resumo

As características da política de ciência e tecnologia (PCT) de países situados na periferia do capitalismo, como os da América Latina, resultam da composição de duas dinâmicas, uma inerente à PCT enquanto política pública e outra decorrente da sua condição periférica. A primeira, de natureza genérica, pode ser encontrada “em estado puro” minerando-a nos países avançados e é responsável pela anomalia (anormal, irregular) de sua PCT. Essa dinâmica faz com que a PCT apresente um desvio acentuado do padrão normal das políticas públicas, que se originam de um processo decisório no qual os atores envolvidos materializam seus projetos políticos nas agendas particulares com que nele participam. A anomalia se deve a que atores que participam em outras políticas defendendo agendas muitas vezes antagônicas, dado que resultantes de (ou condicionadas por) projetos políticos irreconciliáveis, concordam sistematicamente a respeito da orientação dada à PCT. Em consequência, por estar essa agenda decisória enviesada pela concepção da neutralidade e do determinismo da tecnociência, que entende a tecnociência (produzida pelas e para as empresas) como passível de ser “usada” para a materialização de qualquer projeto político, a PCT, ainda quando elaborada por governos de esquerda, tende a seguir a serviço dos valores e interesses do capital. A segunda dinâmica é específica de países que, como o Brasil, apresentam uma condição periférica. Aqui a PCT possui, por acréscimo, uma caraterística de atipicidade (particular, singular, inabitual). Os atores envolvidos na sua implementação, em função do contexto econômico-social e político periférico em que se inserem, manifestam comportamentos sistematicamente divergentes daqueles observados nos (e modelizados pelos) países avançados. Seus comportamentos, por essa razão, são distintos daqueles que deles se espera no momento de formulação da PCT.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGAZZI, E. (1996): El bien, el mal y la ciencia: las dimensiones éticas en la empresa científico-tecnológica, Madri, Tecnos.

ALVAREZ, S. E., DAGNINO, E. e ESCOBAR, A. (2000): “O cultural e o político nos movimentos sociais latino-americanos”, em S. E. Alvarez, E. Dagnino e A. Escobar (orgs.): Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos, Belo Horizonte, Ed. UFMG, pp. 15-57.

BACHRACH, P. e BARATZ, M. S. (1963): “Decisions and Nondecisions: An Analytical Framework”, American Political Science Review, vol. 57.

BAGATTOLLI, C. (2013): Política científica e tecnológica no brasil: mitos e modelos num país periférico, tese de doutorado, Campinas, Unicamp.

BAGATTOLLI, C. e DAGNINO, R. (2012): “Inovacionismo e Dinâmica Inovativa no Brasil”, Congreso de Ciencia y Sociedad 2012, Berkeley (CA, USA), p. 13.

BELL, M. e PAVITT, K. (1993): “Technological accumulation and industrial growth: contrasts between developed and developing countries”, Industrial and Corporate Change, vol. 2, n° 2, pp. 157-211.

CAPES (s/f): Várias publicações.

CNI (2005): Políticas Públicas de Inovação no Brasil: a agenda da indústria, Brasília.

CNPq (s/f): Várias publicações.

DAGNINO, E., OLVERA, A. J. e PANFICHI, A. (2006): “Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na América Latina”, em E. Dagnino, A. J. Olvera e A. Panfichi (orgs.): A disputa pela construção democrática na América Latina, São Paulo, Paz e Terra/Campinas, Unicamp, pp. 13-91.

DAGNINO, R. (1977): Tecnologia Apropriada: uma alternativa?, dissertação de mestrado, Brasília, UnB.

DAGNINO, R. (2004): “A Relação Pesquisa-Produção: em busca de um enfoque alternativo”, em L. W. Santos: Ciência, Tecnologia e Sociedade: o desafio da interação, Londrina, IAPAR, pp. 101-151.

DAGNINO, R. (2006): “A comunidade de pesquisa dos países avançados e a elaboração da política de ciência e tecnologia”, Rev. bras. Ci. Soc., vol.21, n° 61, pp. 191-201.

DAGNINO, R. (2007): Ciência e tecnologia no Brasil: o processo decisório e a comunidade de pesquisa, Campinas, Unicamp.

DAGNINO, R. (2007a): “Os modelos cognitivos das políticas de interação universidade-empresa”, Convergencia, n° 45, pp. 84-99.

DAGNINO, R. (2008): Neutralidade da ciência e determinismo tecnológico, Campinas, Unicamp.

DAGNINO, R. (2008a): “As Trajetórias dos Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade e da Política Científica e Tecnológica na Ibero-américa”, Revista de Educacao em Ciencia e Tecnologia, vol.1, n° 2, pp. 3-36.

DAGNINO, R. (2008b): “Por que os “nossos” empresários não inovam?”, Economia & Tecnologia, ano 4, vol. 13, pp. 111-120.

DAGNINO, R. (2012): “Why science and technology capacity building for social development?”, Science and Public Policy, vol. 39, n° 5, pp. 548-556.

DAGNINO, R., THOMAS, H. e DAVYT, A. (1996): “El Pensamiento en Ciencia, Tecnología y Sociedad en Latinoamérica: una interpretación política de su trayectoria”, Redes, n° 7, pp. 13-51

DEUBEL, A-N. R. (2006): Políticas Públicas: formulación, implementación y evaluación, Bogotá, Ediciones Aurora.

DIAS, R. (2009): “A Trajetória da Política Científica e Tecnológica Brasileira: um Olhar a Partir da Análise de Política”, tese de doutorado, Campinas, UNICAMP.

FEENBERG, A. (2002): Transforming Technology: A Critical Theory Revisited, Oxford, Oxford University Press.

FEENBERG, A. (2010): “O que é a filosofia da tecnologia?”, em R. T. Neder: A teoria crítica de Andrew Feenberg: racionalização democrática, poder e tecnologia, Brasília, Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na América Latina, pp. 51-65.

FINEP (s/f): Várias publicações.

GRAMSCI, A. (1999): Cadernos do cárcere. V. 1: Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira

HAM, C. e HILL, M. (1993): The policy process in the modern capitalist State, Londres.

HERRERA, A. (1971): Ciencia y Política en América Latina, México DF, Siglo XXI.

HERRERA, A. (1970): América Latina: ciencia y tecnología en el desarrollo de la sociedad, Santiago de Chile, Editorial Universitaria.

IBGE (2002-2010): Pesquisa de Inovação (PINTEC) 2008, Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

KINGDON, J. (1984): Agendas, alternatives and public policies, Boston, Little Brown.

KUHN, Thomas (1978): A estrutura das revoluções científicas, São Paulo, Perspectiva.

LACEY, H. (1999): Its science value free? Values and scientific understanding, London, Routledge.

LÖWY, M. (2007): As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen: marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento, São Paulo, Cortez.

LUKES, S. (1980): O poder: uma visão radical, Brasília, Ed. da Universidade de Brasília.

MAGNOLI, D. (2000): União Europeia: História e Geopolítica, São Paulo, Moderna.

MARCOLINO, A. e outros (2013): “DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Desenvolvimento, inovação e os trabalhadores: subsídios para a participação do movimento sindical na 4ª. Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”, Ciência e Tecnologia Social, vol. 1, n° 2.

MATUS, C. (1996): Política, planificação e governo, Brasília, IPEA.

MCT (s/f): Várias publicações.

OLIVEIRA, M. B. (2011): “O inovacionismo em questão”, Scientiæ Studia, vol. 9, n° 3.

SAREWITZ, D. (1996): Frontiers of Illusion: Science, Technology and Politics of Progress, Philadelphia, Temple University Press.

SILVA, R. (2013): A comunidade científica, o governo e a agenda de pesquisa da universidade, tese de doutorado, Campinas, Unicamp.

VARSAVSKY, O. (1969): Ciencia, Politica y Cientificismo, Centro Editor de América Latina.

Downloads

Publicado

2016-09-01

Como Citar

Dagnino, R. (2016). A Anomalia da Política de C&T e sua Atipicidade Periférica. Revista Iberoamericana De Ciencia, Tecnología Y Sociedad - CTS, 11(33), 33–63. https://doi.org/10.52712/issn.1850-0013-445

Edição

Seção

Artigos